terça-feira, 29 de março de 2016

Histórias reais de Heliópolis são retratadas em UTOPIA pelo Grupo Arte Simples de Teatro

Fotos: Cacá Bernardes
O Grupo Arte Simples de Teatro estreia o espetáculo itinerante Utopia no dia 16 de abril (sábado, às 16 horas), tendo ruas, becos, vielas e lajes da comunidade de Heliópolis como palco para a encenação.

As personagens foram extraídas de relatos de moradoras do bairro e tem como suporte dramatúrgico a imersão em obras de Ítalo Calvino (As Cidades Invisíveis) e Bertolt Brecht (Mãe Coragem e Ópera dos Três Vinténs). O fio temático que interliga as histórias é a busca pela vida ideal, pelo lugar ideal - uma cidade, um bairro, uma casa.  

O espetáculo é dirigido por Tatiana Rehder e Tatiana Eivazian, integrantes do grupo formado só por mulheres, com 10 anos de fundação e sete de atuação em Heliópolis. A dramaturgia é assinada conjuntamente por Verônica Gentilin e pelo Arte Simples. O elenco é formado pelas atrizes Andrea Serrano, Eugenia Cecchini, Isadora Petrin, Marcela Arce e Marília Miyazawa.

Desde 2013, a companhia vem percorrendo ruas, frequentando casas e movimentos sociais locais em busca de uma realidade pouco dramatizada, traçada entre a arquitetura local e a vida real dessas pessoas. “Não queremos dar uma conotação poética e romântica para a comunidade, mas mostrar o abandono dessas mulheres, sua força e independência para, diante das dificuldades e tragédias, dar a volta por cima, tocar a vida e cuidar dos filhos”, comenta Tatiana Rehder.

Utopia traz relatos de ficção documental, tendo a personagem Paulo Luz (Marcela Arce) permeando todo o trajeto com sua escada e seus equipamentos. Os fios que ele carrega são simbólicos nesse entrelaçado de histórias. “Histórias que até parecem teatro”. O técnico da companhia de luz vai interligando uma história à outra, como os “gatos” que ligam as casas do bairro.

As histórias vão surgindo pelo caminho. Ruth (Eugenia Cecchini) não gosta de morar em Heliópolis, quer ir embora. Drica (Isadora Petrin) é uma menina que sonha em ser jogadora de futebol. Salete (Andrea Serrano) é analfabeta e quer ser cantora. Mãe Coragem (Andréa Serrano) ouviu da polícia que tinha duas escolhas: atirar ela mesma no filho infrator ou deixá-lo morrer cruelmente nas mãos deles (esta história surgiu no momento em que o Grupo Arte Simples estudava o texto Mãe Coragem, de Brecht).

Rita (Marília Miyazawa) conta como levou uma facada do marido durante a final da Copa do Mundo de 1994. Claudinha (Marcela Arce) vende crianças e Artificial (Isadora Petrin) vende fama: personagens inspirados na Ópera dos Três Vinténs, na qual o personagem esmolava e vendia coisas para sobreviver. Maria do Socorro (Isadora Petrin) pariu nove filhos, somente três “vingaram”; ela conta que falava para Deus: “se for seu, leva; se for meu, dê condição de eu criar”. Nise (Marília Miyazawa), que se casou pela primeira vez aos 13 anos, tem a vida marcada por sofrimentos, mas ela sempre se levanta e segue em frente. Com exceção de Claudinha e Artificial, todas as outras personagens são histórias reais de mulheres de Heliópolis.

Segundo Tatiana Eivazian, “o livro de Ítalo Calvino tem grande identificação com Heliópolis, comunidade que transcende a definição de cidade, seja na geografia, na arquitetura ou na forma de se organizar”. Ela explica que Utopia não deixa de lado o olhar ingênuo e simples da comunidade ao mostrar que a busca pelo ideal é de todos, que cair é fácil, mas é preciso se levantar. “Para ser leve, é preciso ser forte. Como diz Calvino, o inferno vai estar sempre aqui, temos que encontrar os respiros”. Reflete a diretora.

Esta montagem é mais um encontro entre o Grupo Arte Simples de Teatro e a comunidade de Heliópolis, maior favela da cidade de São Paulo com cerca de 225 mil habitantes, aonde faz residência artística há sete anos. Utopia permitiu - a partir dos diferentes olhares dos integrantes do grupo - a imersão na biografia da comunidade por meio das histórias de vida, dos relatos de memórias, da oralidade, da improvisação da arquitetura, das relações dos moradores com o poder público, a polícia e os problemas locais e para onde eles iriam se pudessem sair dali.

O espetáculo Utopia faz parte do projeto Teatro na Laje, contemplado pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz.

Ficha técnica

Espetáculo: Utopia
Com: Grupo Arte Simples de Teatro
Direção: Tatiana Rehder e Tatiana Eivazian
Elenco: Andrea Serrano, Eugenia Cecchini, Isadora Petrin, Marcela Arce e Marília Miyazawa
Dramaturgia: Grupo Arte Simples de Teatro e Verônica Gentilin
Figurino: Kleber Montanheiro
Preparação corporal: Antonio Salvador
Supervisão musical: Adilson Rodrigues
Músicas originais: Adilson Rodrigues e Grupo Arte Simples de Teatro
Produtor articulador: Daniel Gaggini / MUK
Produção executiva: Andrea Serrano e Tatiana Rehder
Contrarregra / assistência de produção: Larissa Souza
Fotografias: Cacá Bernardes
Teaser divulgação: Bruta Flor - direção: Bruna Lessa; câmera: Cacá Bernardes
Design gráfico: Eugenia Cecchini
Redes sociais: Luh Moreira
Carro de som: Ary da Costa / A&A Musical
Casas / cenários: Tony Cabelereiro, Casa do Divino, Loja da Lúcia, Casa da Quitéria, Laje da Ana, Bar Mandacaru, Casa da Tereza, Casa da Francisca e Laje da Fran
Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação
Produção geral / realização: Grupo Arte Simples de Teatro
Apoio: Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz

Serviço

Estreia: dia 16 de abril - Sábado, às 16 horas
Local: saída do CEU Heliópolis (pátio) - Itinerante
Av. Estrada das Lágrimas, 2385. Heliópolis/SP
Temporada: 16/04 a 12/06. Sábados e domingos, às 16 horas
Grátis. Duração: 100 min. Classificação: Adulto (livre). Gênero: Drama
Informações: (11) 96848-6554. Capacidade: 20 pessoas
Transporte grátis: Van disponível na Estação Sacomã do Metrô (R. Silva Bueno) - até o local da apresentação. Reservas pelo (11) 96848-6554 ou reserva@artesimples.com.br.
Recomendação: usar sapatos confortáveis. Em caso de chuva não haverá apresentação.
Não haverá espetáculo, excepcionalmente, nos dias 24/04 e 05/06

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